Kurt Cobain: o menino sensível que virou o grito de uma geração

Sabe aquelas pessoas que nascem com um radar emocional diferente? Que sentem tudo muito? O Kurt era assim. Desde pequeno, ele já mostrava uma sensibilidade fora da curva. Tocava piano, cantava, desenhava — e tudo isso com um talento que chamava atenção. A família apoiava, achava bonito. Por um tempo, parecia que seria uma daquelas histórias de criança prodígio que dão certo.

Mas a vida não quis seguir um roteiro tão leve.

Aos 7 anos, o Kurt foi diagnosticado com TDAH e já começou a tomar Ritalina. Tinha insônia, muita energia, dificuldade pra se concentrar — e tudo isso começou a ser “controlado” com remédio. Dois anos depois, veio o divórcio dos pais. E aí o mundo caiu. Literalmente. O menino que era agitado virou um poço de vergonha e dor. Ele se sentia exposto, deslocado, constrangido com tudo aquilo. E foi colocando essa dor pra fora do jeito que conseguia — rabiscando caricaturas dos pais nas paredes com frases tipo “meus pais são uns merdas”. É pesado? É. Mas era o jeito dele de pedir socorro.

A coisa só piorou quando a mãe começou um relacionamento abusivo e o pai, que já era ausente, casou com outra. Kurt presenciou cenas de violência doméstica que nenhuma criança deveria ver. E no meio disso tudo, ele foi sendo jogado de um lado pro outro. Morou com o pai, depois com os avós, depois com os tios… até que o próprio pai um dia largou ele de madrugada na porta da mãe. Literalmente. Bateu e foi embora. Imagina o que isso faz com a cabeça de um adolescente que já carrega o mundo nas costas?

Na escola, era o esquisito. Sofria bullying por pintar o cabelo, andar com meninas, curtir arte e música. Apanhava, era xingado. Dizem que chegou a falar que gostaria de ser gay só pra irritar os homofóbicos. E, no meio de tudo isso, começou a usar drogas cedo — primeiro maconha, depois bebida, e daí pra frente foi ladeira abaixo. Era um grito constante, silencioso, pedindo pra alguém enxergar a dor dele.

A arte seguia firme. Quando ninguém queria saber dele, a guitarra tava lá. Começou com Led Zeppelin, mas logo o punk tomou conta. Criou sua primeira banda, o Fecal Matter (o nome já diz muita coisa, né?), e foi aí que se aproximou do Krist Novoselic, com quem formaria o Nirvana em 1987.

E aí o mundo mudou.

Com o disco Nevermind, em 91, o Nirvana estourou de um jeito que ninguém esperava. Aquela voz carregada de raiva, dor e melodia virou o hino de toda uma geração que também se sentia perdida, sufocada, sem lugar. Kurt virou estrela. Mas ele nunca quis ser estrela. Ele queria ser ouvido, não idolatrado.

A fama pesou. Muito. A pressão, os holofotes, a indústria… tudo isso foi sufocando ainda mais alguém que já mal respirava. Kurt se afundou cada vez mais nas drogas, principalmente na heroína. Casou com a Courtney Love, tiveram a Frances Bean, e parecia que a paternidade podia ser um ponto de virada. Mas não foi. O conselho tutelar chegou a tirar a filha deles por um tempo. As overdoses se tornaram rotina. E, em março de 94, ele tentou o primeiro suicídio com um coquetel de remédios e álcool. Foi parar em coma num hospital em Roma. Duas semanas depois, fugiu da clínica onde tinha se internado pra tratar o vício. E foi encontrado morto no dia 9 de abril, com apenas 27 anos. Deixou uma carta, uma escopeta e um buraco enorme no coração de quem entendeu o que ele cantava.

No bilhete, escreveu que não sentia mais vontade de ouvir música — muito menos de criar. E que não suportava a ideia de a filha se tornar alguém como ele: miserável e autodestrutivo. Também falou que sentia o estômago queimar desde a separação dos pais. Na época, chegaram a dizer que era dor psicossomática. Mas a autópsia revelou que ele tinha escoliose, e isso podia estar comprimindo o abdômen — como se o corpo tivesse tentando, o tempo todo, dizer o que ele não conseguia colocar em palavras.

O Kurt tinha um histórico familiar cheio de episódios de suicídio e transtornos mentais. Foi diagnosticado com TDAH na infância e, mais tarde, com bipolaridade. Mas nunca teve um tratamento adequado. Nunca teve rede de apoio, escuta, acolhimento real. Foi tragado por uma dor que foi crescendo junto com ele, até não caber mais.

Tem quem diga que foi “suicidado”, que não daria tempo de ele atirar com tanta heroína no corpo. Tem teoria da conspiração pra todo lado. Mas quem convivia com ele de perto diz que o que matou o Kurt foi o sofrimento psíquico. A bipolaridade sem tratamento. O vazio. O peso da existência. E talvez, no fundo, aquela dor antiga de não ter sido ouvido quando mais precisava.

Kurt se foi, mas o grito dele continua aqui. Vivo. Presente. Gritando por todos que já se sentiram pequenos demais pra esse mundo grande demais.

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