Exclusivo para a 89 Rádio Rock, Fabiano Cambota: “Estamos perdendo o que o rock têm de mais autêntico, o enorme fo$%-se”

Goiânia, o ano era 2007, sexta-feira a noite existia uma programação tradicional, era o Omelete Club, mas tinha que chegar cedo “tem show do Pedra Letícia e a casa fica lotada, corre”, alertava o compadre Júlio Prunes. A banda era assim, três caras, um ficava na percussão (e a grande novidade era o Cajon, que ninguém tinha ouvido falar), tinha o cara do violão, guitarra e baixo e o Cambota, que talvez, talvez não, que é de fato um dos maiores frontmans do Brasil. Ninguém fazia ideia do tamanho daqueles caras, todo mundo só queria chegar mais cedo, garantir uma mesa, literalmente na frente do palco, e aproveitar a dobradinha de chopp.

Eram três e as vezes quatro horas de show, interação com o público, covers inimagináveis e o Cambota, sendo o Cambota. Lembrando hoje é como se ele tivesse ouvidos e olhos em todos os cantos do bar, não perdia uma piada, um comentário, tudo virava música, humor, interação. O Júlio me lembrou de uma coisa: “o bar lotava tanto que uma noite não tinha lugar em cima (onde era o palco), eles colocaram mesa no piso inferior transmitindo o show em um projetor”.

O Pedra Letícia fazia música com absolutamente tudo, versões de consagrados jingles do comércio local, o Araguaia uma extinta rede de supermercados, loja de máquinas de costura (China Máquinas) e a mais famosa Fosquima, o sal da Agroquima. O compadre me ajudou a relembrar essa época, contou que existiam momentos muito específicos do show “Um mashup de Psicokiller do Talking Heads com Sandra Rosa Madalena do Sidney Magal, era o ponto máximo da apresentação”.

Hoje quando você busca por Pedra Letícia, alguns vídeos antigos ainda estão disponíveis pela internet, mesmo sendo imagens de 20 anos atrás, é possível sentir a energia na apresentação. Mas porque o Pedra Letícia teve que sair de Goiás para se consagrar e ser a banda que é hoje? Segundo o próprio Cambota “Eu queria ser mais admirado pela galera do Rock, mas as bandas que eu gostava meio que não me davam moral. Mas um pouco a culpa é nossa, o rock é muito exclusivista. Temos que parar com essa bobagem de que quem gosta de rock, só gosta de rock”.

Em entrevista para o Vale o Play! Fabiano me revelou que tentou muito ocupar o espaço do rock n’ roll goiano, tentou tocar nos festivais, enviou material, mas a cena da época sempre os manteve distante: “temos dois aspectos a ser analisado, quem produz humor está em segundo plano, quantos filmes de humor ganharam Oscar? Tudo que é humor é relegado a segundo plano, as pessoas falam dos Mamonas Assassinas, mas esquecem o quanto eles eram excelentes músicos. E segundo, o Rock tem um ‘quê de me leve a sério’ e a gente perdeu o que o rock tem de mais autêntico, o enorme fod$%-se”.

O Cambota finalizou o ano de 2024 fazendo um show de humor na sua cidade natal (Goiânia-GO), no espetáculo o músico e humorista canta, conta histórias, arranca gargalhadas do público, toca músicas do Pedra Letícia em que todos o acompanham em um enorme coro. Na conversa que tivemos ele diz o que mais o deixa motivado quando sobe no palco e toca suas músicas: “Cada momento me traz um prazer diferente. Tiago Ventura foi no show do Pedra Letícia um dia, eu estava cantando uma música, joguei o microfone para a plateia, e todo mundo cantou minha música, depois comentei com o Ventura – ‘faz isso no seu show’, não tem como é uma sensação que só a música me da. Mas a sensação da comédia é outra, eu um microfone e mil pessoas na minha frente, é uma doideira, se eu fizer uma piada que não funciona a quem vou culpar?”.

Conversando com o Cambota por mais de 40 minutos, é possível entender como essa figura carismática e multifacetada é responsável pelo sucesso do Pedra Letícia e pelo sucesso dele como artista. Mais do que um vocalista, Cambota personifica a alma da banda. Desde o Omelete Clube Fabiano fazia de cada show um evento único. Hoje o artista levanta uma bandeira fundamental em seus shows: o ato de sorrir.

A entrevista completa você assiste aqui:

Breno Magalhães é jornalista e locutor da 89 Rádio Rock de Goiânia, músico frustrado e cineasta de fita crepe.

Compartilhar

WhatsApp
Telegram
Facebook
X
LinkedIn
Email

Você não pode copiar conteúdo desta página