Entrevista com Daniel Lima: Beatles na Esquina, a criação mineira potente e audaciosa

Cabelos longos, barba comprida, camisa flanelada, bota e jeans escuro, o ethos do cantor de Rock Folk. Daniel Lima não é um músico neófito, o mineiro toca desde 95, além de possuir a habilidade de conceder entrevistas como se fosse um amigo de longa data, a simpatia e prontidão em responder de forma lírica e musical cada pergunta (por mais simples e medíocre que elas possam ter saído da voz deste jornalista que escrevinha por aqui) demonstra que a musicalidade está nele e ela exala pelas suas respostas. A verdade é que já conhecia o Daniel Lima por ser essa figura do violeiro de voz rouca e super afinado, um pouco de Bob Dylan, com resquícios de Neil Young, mas com uma personalidade só dele.

Lendo releases me deparo com “cover de Beatles e Clube da esquina”… Essa frase ficou ressoando na minha cabeça! Lennon, Lô, Paul, Milton…. Beatles na Esquina é o nome do projeto, coisa de gente audaciosa, porque em um primeiro momento você pensa “mas Beatles e Clube da Esquina?”, em um segundo parece fazer tanto sentido, até porque na minha lista pessoal, Sgt. Pepper’s e Clube da Esquina estão no top 10 melhores álbuns da história.

“Esses dois mundos, os Beatles e o Clube da Esquina sempre estiveram presentes na minha vida desde a infância. Eles fazem parte da influência que recebi, são da coleção de discos da minha família. É uma época que eu lembro muito vividamente, que existia aquele momento da música, aquele momento de final de semana, de sentar na sala e ir pegando os álbuns e escolhendo e colocando, uma sequência de coisas que iam ser ouvidas naquela manhã de sábado, naquela manhã de domingo. Era uma devoção mesmo, esse momento dedicado a apreciar a música. E a variedade de coisas era enorme, mas os Beatles e discos de Milton, de Beto, de Lô, de 14 Bis fizeram parte dessa lembrança”, me explicou o Daniel Lima como se estivesse declamando um poema nostálgico de seu passado.

Existe um movimento para músicos, que faz o que o Daniel faz, que é pegar o violão e cantar, de se manter na estrada, com o violão e a voz, o negócio é que Daniel vem para Goiânia com muitos músicos, e ao contrário do violeiro solitário, sua “orquestra” são de profissionais e interessados como ele. Eu questionei o Daniel sobre isso, sobre essa quantidade de pessoas, e sobre a preocupação pela qualidade musical do espetáculo: “isso é uma coisa que vem muito do produtor, o Rodrigo Rios, que é o diretor musical do espetáculo, e é também o baterista da banda. O Rodrigo tem uma formação muito americana, ele é formado em Berkeley, lá em Boston, e tem uma vivência de mais dez anos em Los Angeles, organizando gravações, organizando espetáculos, e ele presa por uma qualidade assim que ele não abre mão. E eu tô trabalhando com ele desde o final de 2019″.

Daniel foi para Los Angeles gravar seu mais recente álbum, lançado esta semana. Ano passado ele se aproximou de músicos como Beto Guedes e chegou a gravar uma canção dos Beatles com ele, The Long and Widing Road.

“Agora esses projetos que a gente tem desenhado é maior, a gente tem um tributo a Ray Charles também, que tem até mais gente no palco, Beatles na esquina comigo são 10 pessoas no palco e todo mundo com muita experiência assim, que já tocou com vários artistas, vários deles já tocaram com o Beto Guedes, com o Lô Borges, tocam até hoje na verdade” ,

Beatles na Esquina acontece neste domingo (12/01) em Goiânia no Teatro Madre Esperança Garrido às 19h, o projeto conta com a participação especial da cantora Roberta Campos, que segundo Daniel foi uma “feliz ideia para o projeto. Pensar numa artista mineira, para a gente poder ter uma representante, atual, contemporânea, como um símbolo mesmo da continuidade desse legado, de uma musicalidade própria e muito específica que só o mineiro tem. A gente acredita que tem uma influência que vai além dos próprios Beatles, que vai lá atrás no período barroco, uma coisa mais rebuscada, melodicamente, harmonicamente, e que ao mesmo tempo conseguiu achar uma forma ‘pop’ de comunicar toda essa complexidade, esse rebusco barroco, de uma forma que toca os corações”, segundo Daniel é possível ver nos olhos das pessoas nos show como a música mexe com a memória afetiva de cada um.

O músico me contou que não conhece Goiânia, mas que sua esposa possui familiares na região, agora Daniel pisa no chão goiano para nos presentear com essa mistura mineira de Beatles na Esquina. A conversa com Daniel poderia durar por mais algumas horas, mas a breve troca de ideia nos conta que o espetáculo vai além de um show de covers, na verdade, é uma reunião de músicos interessados e dedicados nos apresentando uma mistura brasileira de qualidade que segundo Daniel é essencial para existência humana: “os Beatles chegaram pro mundo num momento que precisava muito dessa alegria, de um sentimento mais leve. E eu acho que os compositores mineiros dessa era trouxeram e conseguiram permanecer assim, manter esse legado de uma mensagem que traça esse tipo de sentimento à tona. Eu preciso sempre acreditar nisso, porque como compositor e artista é importante manter essa chama, de acreditar que precisa-se de novidades, de novas composições, de novas criações também, além de reverenciar o passado”, conclui.

Após Goiânia, o espetáculo segue para outras cidades, incluindo Brasília, Uberlândia, Campinas e Rio de Janeiro, prometendo levar essa fusão musical a diversos públicos.

Breno Magalhães é jornalista e locutor da 89 A Rádio Rock de Goiânia, músico frustrado e cineasta de fita crepe.

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