Bob Dylan um completo desconhecido e um texto incompleto

Cheguei aos créditos do filme Bob Dylan A Complete Unknown, (suspiro). A primeira coisa que me gritava por atenção durante o filme: Timothée Chalamet cantou e tocou? Se sim, porque ele não levou um Oscar? Sim, ele cantou e tocou, e não levou o Oscar 2025. Pensa comigo, uma interpretação dedicada a igualar até mesmo o timbre do Dylan, nenhum destaquezinho que seja?

Existe um padrão nos filmes biográficos que me causa um certo desconforto, geralmente eles seguem um padrão: o começo decadente do artista saindo de sua terra natal, ele chega em algum lugar sem abrigo e amparo, depois apresenta seu talento para alguém que o enaltece e fica completamente estarrecido com a habilidade artística e inovação, o desenvolvimento do roteiro geralmente o leva a mostrar seu talento para um grande público, vem a fama, excessos alcoólicos, uma caída brusca, a ascensão do herói e fim, a memória do artista. Captou ai meu enredo?

Bob Dylan A Complete Unknown não segue esse padrão, pelo contrário, as fases mais “obscuras” do Dylan não levam tanto destaque, não mostra o artista em situações degradantes, o início do filme, dessa busca do artista pelo espaço e reconhecimento, é singelo, poético, Dylan está mais preocupado em conhecer um ídolo e estar perto dele do que ser um astro.

Seu processo criativo é apresentado no filme como uma das características mais impressionantes de Dylan, é como se ele fosse capaz de escrever e criar músicas em qualquer lugar, o que é fácil de mostrar quando pensamos na própria história dele. Tão jovem e tão criativo.

Ser fã do Bob Dylan em seu início de carreira, observando sua importância para a música e para os movimentos em que ele esteve, é relativamente fácil, mas não foi assistindo ele compor, cantar, se apresentar, se expressar que me causou todos os arrepios: MÔNICA BARBARO, assim, em letras garrafais e sua interpretação da incrível Joan Baez, é por ela que esse texto se debruça em afetos.

ALERTA DE SPOILER!!!!

@oscars

Monica Barbaro as Joan Baez in A COMPLETE UNKNOWN. Nominated for Actress in a Supporting Role at the 97th Oscars.
Watch the Oscars LIVE on Sunday, March 2nd, at 7e/4p on ABC and Hulu.
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É preciso dizer aqui que além da Mônica estar incrível nesse filme, assim como Timothée ela canta e encanta. Na cena de cima a atriz que interpreta Joan Baez está cantando e tocando em um pub, com um público intimista, ela para o violão, empurra o microfone de lado e vai no “gogó”. Sim, nesse momento a tela do cinema te abraça, você também está lá, de frente a Joan ou Mônica (não se distingui obra e artista), Síndrome de Stendhal. Lágrimas. Que cena. Que interpretação.

O filme não precisa mostrar o rosto de Bob Dylan para revelar seus momentos de criação, tudo é filmado com um distanciamento. Mesmo que o filme seja sobre ele, me parece o tempo todo que o diretor quer mostrar seu universo social, suas influências, sua relação com o mundo. Destaque para a representação de Pete Seeger, interpretado por Edward Norton, que parece um verdadeiro coringa no enredo, apresentando Bob Dylan ao público e enaltecendo a participação criativa do músico.

O filme me permitiu arrepios em vários momentos, mas realmente não merecia um Oscar, existe uma cena em específico onde Dylan cumpre seu papel transgressor durante um festival de Folk Music (isso não é spoiler, é estória) e os organizadores não querem que ele toque com guitarra elétrica e afins, então começa uma grande bagunça, porradaria e por um momento era como se estivesse assistindo um filme dos Trapalhões.

Bob Dylan está na parede do meu quarto, seu impacto e influência em meus capitais culturais são significativos, quando escutei The Freewheelin pela primeira vez uma espoleta transgressora explodiu dentro de mim, é impossível digerir Dylan e não se modificar, este filme deve servir como uma verdadeira introdução a geração Z, vale a escuta, vale a experiência e principalmente vale ouvir Joan Baez em volume máximo, obrigado Mônica Barbaro.

Breno Magalhães é jornalista e locutor da 89 Rádio Rock de Goiânia, músico frustrado e cineasta de fita crepe.

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