Sou cria de Goiânia Rock City, aos 13 anos percorria os corredores e teatros do Centro Cultural Martim Cererê ouvindo monólogos de palhaços tristes, lendo fanfics undergrounds de poetas que moravam no submundo da pastelaria da rua 83 no centro e escutei ao vivo as melhores bandas de indie rock daquela época (The Ugly, The Computers, Valv, Valentina). Claro que a lógica do “sexo, drogas e rock n’ roll” não me servia, primeiro porque aos 13 a única coisa que eu possuía era o dinheiro para comprar um americano de salsicha e a passagem de ônibus, segundo porque o acesso à essa tríade era inviável para a minha condição física.
Viver o universo do rock alternativo de Goiânia me aproximou de um campo cultural e esportivo tão potente quanto: o Jiu-jitsu. E ai você me pergunta o que bulhufas Jiu-jitsu tem a ver com rock n’ roll? Te respondo de prontidão, tudo!
A história toda começou a ganhar reflexão antes do meu bate papo com o Badauí (vocalista do CPM 22). Para você que não sabe, um bate papo de 30 minutos com o músico gera horas e horas de trabalho, a famosa pré-produção: ajustar horários compatíveis, data, agenda, pronto, data marcada, horário reservado, agora vamos estudar nosso entrevistado.
Devo ter assistido a uns 5 shows do CPM 22 na minha vida, em todos eles sai completamente rouco de tanto gritar as letras, além de estar encharcado de suor assim como todos os presentes. Me lembro de adolescente cantar as músicas da banda com amigos, fazendo duetos em trechos específicos, tenho até uma vaga lembrança de entrar no camarim de um festival chamado GO MUSIC e tentar um autógrafo. Nunca tive uma camiseta, mas o som desses caras despertou um punkrocker adormecido e posso dizer com toda certeza que eles formaram muito da identidade musical. Veja, com tamanha carga cultural que o CPM 22 me proporcionou, difícil não ficar nervoso antes desta entrevista, concorda?
Convenhamos, não precisa assistir muitas entrevistas do Badauí para você saber que o cara é “porrada”, subir no palco e cantar sobre amor, escolhas, caminhos, enfim, tudo isso numa pegada punk rock, com um “quê” melancólico, o jornalista começa a tremer os dedos na escolha dos assuntos, das perguntas, mas uma coisa eu e Badauí temos em comum, nossa paixão pelas artes marciais. Agora sim, me sinto confortável em começar qualquer conversa com o vocalista. Virou uma arena de combate, você não sabe quem é seu adversário e está preparado para o que vier.
Vou explicar uma coisa para você, o praticante de qualquer arte marcial possui um perfil muito parecido, independente da modalidade esportiva, todo “lutador” tem como princípio confiar em seu corpo, em sua capacidade técnica, ao ponto de saber exatamente o que deve fazer, quem não deve enfrentar e como se portar em situações “extremas”, claro que estou aqui generalizando um comportamento, mas essa atitude é uma via de regra, e afirmo, necessário que todo praticante de qualquer luta que seja, saiba exatamente onde pisar.
Leia atentamente este parágrafo anterior e me responda: não parece que estou falando sobre rock n’ roll?
Badauí me contou sobre os 30 anos de banda, lançamento de músicas novas, sua relação com a gastronomia, a militância cannabica e sua paixão pela luta. A conversa toda você pode assistir no Vale o Play! clica ai:
Breno Magalhães é jornalista e locutor da 89 Rádio Rock de Goiânia, músico frustrado e cineasta de fita crepe.